A relação do território de Vila do Conde com os Caminhos de Santiago é longa e aparentemente simples, pela forte tradição de peregrinação que existe desde a Idade Média no concelho. Isso mesmo atestam as pontes medievais, a paróquia cujo orago é Santiago, os mosteiros com tradição de peregrinação e até peregrinações reais – a de D. Manuel I e a de Filipe II de Portugal. Os arquivos da Misericórdia de Vila do Conde referem a presença de peregrinos e o mesmo fazem os tombos do Mosteiro de S. Simão da Junqueira.

Pelo concelho de Vila do Conde cruzam dois itinerários de peregrinação para Santiago. Ambos têm histórias distintas, cenários paisagísticos diversos e liações cronológicas diferentes.

O Caminho Português da Costa é uma variante do Caminho Central, o trajeto mais utilizado por quem peregrinava até Santiago de Compostela. O seu traçado ganhou visibilidade durante e após o século XV, altura em que diversos fatores contribuíram para aumentar a atratividade das zonas costeiras. No caso de Vila do Conde, o ciclo de crescimento que aqui se verificou teve reflexos na forma como a povoação se estruturou e nos equipamentos que foram sendo construídos, nomeadamente para apoio a quem viajava.

O caminho entra no concelho de Vila do Conde por Aveleda, vindo da ponte de D. Goimil (concelhos da Maia e Matosinhos), através dos lugares de Lancaparte e da Mota.

Daí segue para norte, na direção da Igreja de Santiago de Labruge, passando por uma paisagem marcada pela intensa atividade agrícola. Trilhando no sentido do lugar da Javalana, a via segue em direção às “Almas Grandes”, construídas no século XIX e erguidas na Rua de Labruge, próximas do ponto que divide as freguesias de Modivas e de Vila Chã. Este trajeto é essencialmente florestal.

A partir deste ponto atinge-se a freguesia de Mindelo, onde se passa junto da sua igreja, bem como nos lugares da Lameira e de Paredes. Quando João Baptista Confalonieri, Secretário do Núncio de Lisboa, aqui passou, em 1594 na sua peregrinação a Santiago de Compostela, descreveu Mindelo com sendo uma freguesia com povoamento disperso.

O troço seguinte tem um trajeto relativamente próximo da praia, cruzando a Reserva Ornitológica de Mindelo, até que atinge o lugar de Pindelo, na freguesia de Árvore. Pouco depois, esta via permite passar no lugar da Granja e próxima da igreja do antigo Convento dos Capuchos e de Santa Maria de Azurara. É por entre diversas casas com indícios de uma arquitetura manuelina que se atinge a margem sul do rio Ave.

Durante um curto lapso temporal a sua travessia foi fei- ta por meio de uma ponte, a que vem mencionada num documento de 1270. Contudo e ao longo dos séculos, a grande maioria dos viajantes ultrapassou o rio por meio de barca, cujos direitos pertenciam ao Convento de San- ta Clara de Vila do Conde. O documento comprovativo dessa realidade encontra-se no foral Manuelino de Vila do Conde, datado de 10 de setembro de 1516. Outros do- cumentos comprovam a existência dessa barca, já que ela é mencionada numa deliberação municipal datada de 11 de novembro de 1466.

Embora com serviço irregular, ela manteve-se em fun- cionamento até que, no nal do século XVIII, se cons- truiu uma ponte que a substitui de nitivamente.

Em Vila do Conde era quase obrigatório passar pela Igreja Matriz, erguida numa área que, na viragem do século XV para o XVI, passou a constituir-se como o centro político administrativo e religioso da povoação. Outros viajantes terão preferido a assistência ofere- cida pela Misericórdia de Vila do Conde, edi cada a pouca distância da Igreja Matriz e do novo edifício da Câmara Municipal.

Embora algumas destas instituições possam ter uma origem cronológica mais remota, todos estes edifícios têm a sua génese no nal da centúria de quatrocentos, ou já na de quinhentos.

Como em todos os aglomerados urbanos, em Vila do Conde seria possível calcorrear diversos trajetos para se caminhar em direção ao Norte. No entanto, com o aumento da importância da Póvoa de Varzim - conseguido essencialmente a partir da Idade Moderna-, um ramal desta via terá ganho força, levando-o a passar diretamente por aquela povoação, através da antiga Praça Velha, do Alto de Pega e da Poça da Barca.